Carlos Alberto Lopes

sexta-feira, junho 22

UM ATEU, NA MISSA DAS DEZ!

Sabedor que na manhã daquele Domingo, durante a missa das dez, o padre da matriz pediria ajuda aos fieis para a reforma do telhado da nave, destruído parcialmente durante o último vendável, Juvenal avisou a mulher para mandar passar seu terno de linho branco, pois no Domingo iria na missa das dez.
A esposa não podia acreditar! Casada com Juvenal a mais de trinta anos, só viu o marido entrar em uma igreja no dia do casamento, assim mesmo com muita má vontade pois, por ele, casavam só no civil.
Nem nos batizados dos filhos compareceu. Agora, de uma hora pra outra, mandava preparar o terno de linho branco e avisava que ia a missa? Era um acontecimento, digno de ser classificado como algo fora do comum, e foi Maricota, depois da mulher, a primeira a saber da novidade, enquanto estendia roupas no varal da casa do lado, onde morava com o marido Lourenço, parceiro permanente do Juvenal no truco, que acontecia todas as tardes, atrás da padaria do Acácio Mota, frente a praça Vinte e Oito de Setembro.
A noticia de que Juvenal compareceria na missa das dez do Domingo, se espalhou como pólvora, quando Lourenço contou o fato para os amigos, na cervejinha do cair da noite, no bar do Juarez, que fazia funcionar aos fundos o “Bordel da Marinha”, grande amiga do Juvenal, que não acreditou na noticia.
Juvenal, nascido e criado na cidade, era conhecido por sua vocação de “Ateu Convicto”, embora tivesse amizade estreita com monsenhor Nonato de Carvalho, titular da matriz e profundo apreciador das macarronadas de Rosa, mulher do Juvenal.
Rosa era filha de Maria e, no dia das reuniões, Juvenal a levava ate a porta da igreja, mas não entrava. Ficava no papo e na cerveja, na padaria do Acácio Mota, até que Rosa resolvesse “suas” coisas lá com a igreja.
_Compadre Juvenal? Na missa de Domingo? Isso é coisa que quero ver!
Comentou Acácio Mota, quando lhe contaram, na reunião do truco.
O monsenhor Nonato, quando soube da novidade, pois nada ficava sem o saber do monsenhor comentou:
_Acho que ai tem coisa, mas em todo caso, que ele venha! Vou ate reservar um banco, bem na frente, para o casal!
O comentário na cidade, naquela semana, correu solto.
Uns garantiam que Juvenal ia a missa e outros, a maioria, batia pé de que era apenas fofoca.
Diante disto, Leonardo, que era o banqueiro do bicho na cidade, abriu apostas, e quase a cidade inteira fez sua “fezinha”, pois aquele era o assunto do momento.
O prefeito, na Sexta-feira, suspendeu um compromisso que havia marcado na cidade vizinha, para domingo de manhã.
Quando seus assessores mais chegados quiseram saber o porque, respondeu:
_Tenho que estar na missa das dez, deste domingo, pois não posso perder este acontecimento!
O comentário de que Juvenal, querido e respeitado por todos na cidade, estaria na missa das dez do Domingo, ultrapassou até as barreiras das doutrinas cristãs, pois o pastor da assembléia de Deus garantiu aos fieis, no culto de Sexta-feira, que estaria na missa das dez do domingo , na matriz de São João Batista, pois haviam comentários que o santo faria o milagre de levar Juvenal a assistir a missa, e este feito ele não ia perder!
No Domingo , às dez em ponto o monsenhor Nonato Ribeiro de Carvalho, titular da matriz de São João de Batista, dava início a missa.
A nave da igreja estava repleta, com gente em pé põe todos os vãos livres da igreja.
Sentados no primeiro banco, estavam Rosa, vestida com o uniforme da irmandade de filhas de Maria e Juvenal, com seu terno de linho branco, impecavelmente limpo e bem passado.Após a missa, monsenhor Nonato verificou que a coleta do dia dava e sobrava para a reforma do telhado.
Entre os donativos, um papel apareceu, e dizia:

Meu caro Nonato.
Sabe o amigo que sou Ateu, e assim morrerei. Espero que os donativos de meus curiosos amigos sejam o bastante para a reforma do teto da matriz. Se ficar faltando algum, não me culpe, pois fiz o possível.
Juvenal

autor: Carlos alberto Lopes

emal: escritor@uol.com.br



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