Carlos Alberto Lopes

quinta-feira, junho 28

O PEQUENO MÁRIO

Mário tinha seis anos de idade.
Aparentada ter, de corpo, uns quatro e, de vivência ,uns dez, visto que vivia nas ruas, dormindo onde podia e comendo, quando lhe davam.
Seus pais, ele não sabia quem eram, pois nunca os conheceu.
Fora deixado, ainda de colo, num dos bancos da Praça da Sé, em São Paulo, e chegou aos seis anos graças a um grupo de garotos que o adotaram, ainda trocando fraudas.
A mãe, que conheceu e reconhece, é Julia, uma garota de dezesseis anos, que na época tinha dez, e cuidou dele como pode, roubando até, para que não lhe faltasse o leite.
Julia , hoje, não mais esta nas ruas, pois os homens da Febem a colocaram num hospital, pois Julia esta com uma doença grave que o pequeno Mário não sabe explicar direito.
“Cabeça de Prego” é quem cuida de Mário agora, e foi ele quem contou pró Mário sobre Julia.
Mário e os outros meninos vivem na praça, dormindo nos buracos do metro, pois e o único lugar quente que conhecem.
Vez ou outra, um dos garotos é pego pela policia, e fica fora das ruas pôr uns tempos, mas logo volta.
Só quem nunca volta é Julia.
De vez em quando, Mário chora, com saudades de Julia.
Mas chora baixinho, sem ninguém ver, pois o “Cabeça de Prego” não admite que Mário chore, pois diz que chorar e coisa pra mulher, e o Mário fica com vergonha.
Nas ruas, Mário já aprendeu muita coisa: já sabe amarrar os tênis, que ganhou do Juarez, pois não serviam mais pra ele; sabe fazer “cara de fome”, pra ganhar trocados das senhoras que passam na praça: sabe escolher o pão mais mole, dos que encontra no lixo do bar da esquina: sabe que tem que respeitar o padre da matriz, pois e ele quem da os presentes na época do Natal ;e os ovos de Páscoa, além de roupas e outras coisas, vez ou outra.
Outra coisa que a vida ensinou a Mário, foi evitar a policia , pois foi ela quem levou Julia, e o deixou só .
No correr dos anos, Mário conquistou alguns amigos .
Seu Onofre, dono da padaria, lhe garante o café da manhã, chova ou faca sol: o Melquito, dono do restaurante, prepara todos os dias o prato de Mário, e não e com restos não, pois Mário come numa mesinha, ao lado do pessoal da cozinha, com direito até a um copo de suco, que varia todos dias.
Mário tinha um cachorro, o “Felpudo”, mas o caminhão atropelou.
Quando o dia tá quente, Mário e seus amigos vão pra fonte e “caem n’água “, quando a policia não esta vendo.
Vez ou outra, Mário e a turma vão passear de metro, e é sempre divertido, pois Mário “faz de conta” que é tatu, cortando a terra e entrando nos buracos de concreto.
Talvez o dia mais triste da vida de Mário, foi quando o Souza, um menino da turma, com menos de dez anos, pegou carona na carroceira de um caminhão e acabou caindo, batendo a cabeça no asfalto, chegou morto ao hospital.
No Natal passado, Mário ganhou um pião de seu Onofre, com fieira e tudo.
Parece mentira, mas Mário conserva o presente como ganhou. Nunca rodou o pião.
Nem uma única vez.
Assim vive Mário, menino da Praça da Sé .

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