Carlos Alberto Lopes

sexta-feira, junho 22

NO MORRO DO PEPINO

Quando o dia amanheceu, o sol entrou pela fresta existente no teto, e sua claridade. alcançou os olhos do pequeno Marcelo, que dormia sossegadamente ao lado da cama de seus pais numa rede de barbante.
Com o choro, acordou o casal, que levantou pouco depois.
Enquanto o pai lavava o rosto, numa bacia de alumínio, colocada ao lado de sua cama, a mãe em outro canto do único cômodo da casa, iniciava o preparo do café, colocando uma lata que fôra de leite, cheia de água, no fogão já acesso de uma só boca, que estava amarelado por ferrugem, correndo o risco de explodir a qualquer momento.
O cômodo possuía pouca mobília. Eram, uma rede de solteiro, uma cama de casal; um armário, feito com caixa de frutas, que a mulher transformara em "armário de cozinha", onde três pratos de louça encardida pousavam ao lado de duas canecas de alumínio, dentro das quais alguns talheres de alpaca foram colocados ao acaso.
Encostada na outra parede, havia uma velha caixa de papelão, fazendo as vezes de "guarda roupa", onde ficavam guardadas as poucas peças que a família possuía.
Em um canto, uma caixa de maçãs, coberta por uma já rôta toalha de croché, cheia de buracos, fazias as vezes de mesa, onde estava colocada uma grande estátua de Jesus Ressuscitado, com os braços abertos... Imagem, que na religião dos donos da casa, era chamada de Oxalá.
Frente à imagem, após tomar um pouco de água tingida, muito longe de ser café, o jovem pai ajoelhou-se, orou por instantes e após dar um beijo na esposa e outro no pequeno Marcelo, saiu pela porta, dirigindo-se ao seu trabalho, como fazia todas as manhãs, com sol ou chuva...
Desceu a ladeira e, pouco depois, estava na avenida, onde embarcaria no ônibus, que o levaria à cidade...
Quando a noite desceu, no Morro do Pepino, a alameda ganhou o breu da escuridão...
A única luminosidade que se via, eram os clarões, que saíam pelas frestas dos barracos...
A mãe de Marcelo começava a preocupar-se, pois seu companheiro nunca chegava após o escurecer, sempre voltava pouco antes das seis da tarde...
O leite do pequeno Marcelo acabara, e era necessário providenciar outra lata, mas o dinheiro estava com Domingos, pois receberia "vale", naquele dia...
Com o tempo correndo, a preocupação da jovem senhora aumentou, e ela resolveu, para distrair-se, ligar o seu minúsculo rádio de pilha, presente que ganhara de Domingos, quando recebera ele umas horas extras, tempos atrás...
Poderia, para distrair-se, escutar uma música bonita, como aquela que Domingos costumava cantarolar aos sábados, enquanto varia o quintal do pequeno barraco, pendurado em uma das alamedas do Morro do Pepino...
Ligou o rádio, e uma voz anunciou:
_..."Foi encontrado, na Alameda que dá acesso ao Morro do Pepino, por volta das cinco da tarde, um homem jovem, vítima de assalto... Infelizmente, a vítima faleceu, ao dar entrada no Pronto Socorro. ... Em seus bolsos, foram encontradas a quantia de oito reais, e sua Carteira Profissional... Seu nome era Do...
Nesse momento, a jovem senhora desligava o rádio, dizendo:
_"Chega de notícias ruins... Vou deitar-me! Quando Domingos chegar, levanto e esquento a janta..."

autor: Carlos alberto Lopes

emal: escritor@uol.com.br

Nenhum comentário: