Carlos Alberto Lopes

quinta-feira, junho 28

O ARMAZÉM

O armazém do Custodio era muito mais do que um simples armazém de secos e molhados, como podia parecer para quem via o armazém, pois aquele local era o centro de tudo, naquela cidade, que nem no mapa do estado aparecia.
Ali, se resolvia tudo, em nome da comunidade e se ditava as regras de conduta de conduta até da própria vida da população.
Foi no armazém do Custodio, que a oposição conseguiu encontrar um nome , para ganhar as ultimas eleições gerais; foi ali também que lançou-se o nome do Justino, para presidente da Associação Comercial, além de sair dali o nome do presidente do Clube Campestre, que de campestre não tem nada, pois fica na parte central da cidade mas, com fala o Sebastião, sacristão das matriz, o nome não é coisa importante desde que o tal clube sirva a população, e é o que acontece; pois é no “campestre” que nasce todas as ajudas comunitárias, dirigidas à população carente.
O Armazém do Custodio é, sem duvida, o coração da cidade, pois é daquelas três mesinhas de armar, que o Custodio coloca frente ao armazém, invadindo a calçada, que sentam para o aperitivos “notáveis” da cidade, pois a cidade é do povo, mas quem manda realmente, senta-se naquelas mesas, com toda certeza.
Foi ali que nasceu a candidatura de “Chico Filo”, para deputado estadual.
O coitado do Chico só ficou sabendo dois dias depois, quando invadiram seu sitio, ao pé do morro, pra lhe informar que ele, o Chico, era o candidato da cidade.
O Chico perdeu a eleição, mas ganhou um bocado de amigos, que na eleição pra prefeito ajudaram a oposição a ganhar a prefeitura e doze cadeiras na câmara municipal.
Chico não foi o candidato, pois esta honra ficou para o Dr. Pimenta, mas o Chico ajudou muito, tanto que Dr. Pimenta arrumou um emprego para o filho do Chico que agora é continuo da prefeitura.
O Chico fala que o filho ganhava mais no escritório de despachante, que trabalhava a mais de cinco anos, quando o Pimenta o levou para a prefeitura, mas agora é emprego fixo e isso, nos dias de hoje, vale alguma coisa.
O engraçado é que o Chico, depois da eleição do Pimenta, pouco aparece no armazém e, quando o faz, nem chega a esquentar a cadeira, muito diferente do que acontecia na época da eleição, quando o Chico era figura constante e obrigatória.
Padre Clementino é quem deve estar com a razão, quando diz que política é a arte de plantar e colher depressa pois, quem espera, perde a safra.
_Chico plantou, e bem plantado, mas na hora de colher, esperou demais, e ai, o Pimenta aproveitou!
Disse o padre certa vez, numa conversa na casa de dona Marcolina, no aniversario de casamento da bondosa senhora e seu Lindouro, líder da situação, quando o nome do Chico foi colocado numa conversa sobre o armazém.
Carmelita, mulher do Custodio disse que o armazém nunca esteve tão movimentado como no dia que a “casa amarela” foi fechada pela policia e a Maria Pouca Roupa resolveu colocar a boca no trombone, e escolheu o armazém, para palco de seu discurso.
O que Maria disse de verdades naquele dia, deixou muita gente de cabelo branco e, menos de duas horas depois o Dr. Fugencio relaxava a ordem de fechar a “casa amarela”.
Nunca mais a policia chegou perto da casa de Maria Pouca Roupa, e Custódio nunca tremeu tanto como naquele dia, pois a Maria fez uma confusão tão grande no armazém, que em certo momento, não se sabia mais quem era da situação e quem era da oposição, pois Maria lavou a roupa suja, sem se preocupar, toda misturada, e foi difícil secar peça por peça.
Foi no armazém também que o Américo se escondeu, quando Melquito o pegou nu, na cama de casal, com a Ernestina e o jogou pela janela do segundo andar do sobrado, nu como havia nascido.
De certa feita o Paiva, dono do cartório, resolveu contar nas paginas do “diário”, as histórias do armazém, mas a coisa não durou muito, pois depois que o jornal publicou a primeira história, o Paiva apareceu com escoriações pela corpo, e desistiu da idéia.
No carnaval passado quase que acontece o fim do armazém do Custodio, pois um grupo de jovem, ligados à situação, que agora é oposição ao Pimenta, jogou uma bomba caseira no armazém bem quando tava todo mundo reunido para o papo diário.
Foi uma correria dos diabos!
Acabou levando dois para a farmácia do Juares, com escoriações pelo corpo e com um talho no olho do filho da Cremilda, que não tinha nada que ver com a história, apenas tinha ido buscar dois quilos de feijão mulatinho pra mãe e acabou quase cego do olho esquerdo.
Cremilda saiu em defesa do filho e por pouco o armazém do Custodio não é fechado permanentemente, pois a Cremilda, viúva do finado Jetulino, que antes de morrer havia sido prefeito por três vezes, fez o maior fuzuê com o acidente do filho, responsabilizando o Custodio pelo ocorrido.
A coisa foi tão feia, que até processo na justiça rendeu, e Custodio se viu em papos de aranha pra pagar a tal indenização, que o juiz determinou ser paga ao menor, que era arrimo de família”.
Cremilda, quando foi procurada pelo seu vigário, a pedido do Custodio, para um acordo, foi taxativa:
_Não tem acordo! Tá na hora destes cabras descobrirem que existe lei, e que é pra ser respeitada!
Foi assim que o Custodio quase perde o armazém.
O teria perdido se Dr. Pimenta não lhe adiantasse algum.

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