Carlos Alberto Lopes

sexta-feira, junho 29

O VENDEDOR DE VELAS

O Padre de matriz via todos os dias um menino, de seus dez ou doze anos, não mais que isso, sentado na escadaria da igreja matriz, oferecendo velas aos paroquianos .
_Como e teu nome, menino?- perguntou-lhe certo dia o bondoso sacerdote.
_Me chamo Mário, seu padre!- respondeu o menino, tirando o chapéu de palha da cabeça...
_Quantos anos tem?
_Mãe diz que já fiz dez, mas certeza mesmo, tenho não senhor! Nunca, nunquinha mesmo, comemorei aniversario!
_Sabe ler, escrever, fazer conta?
_Olha seu padre, sei ler as letras....mas quando coloco elas todas em carrerinha não entendo mais nada. Quanto aos tais dos números, conheço eles..... mas se puder um em riba dos outros, com mais de dois andar, eu num sei como junta eles não. Mãe diz que isso a gente aprende na tal da escola, mas eu nunca fui lá não! Tenho que trabalha, por morde de que o Marcelo, meu irmãozinho ainda toma leite. Ele é pequeno ainda!
_E seu pai?
_Morreu faz um tempinho, numa brigas com um sujeito lá na favela, onde nois mora! O sujeito não gostava do pai, e ai mato ele, com a peixeira! Depois, veio uns home, que colocaram o pai num carrão preto e sumiu! Meia hora depois, a mãe veio conta que ia ao tal do instituto medico legal, busca o pai, pro velório, mas não sei o que aconteceu, pois a mãe demorou e nois, eu e o Marcelo, durmimo. No tal do enterro, fui não, pois dona Rosa, vizinha de nois, lá na favela, disse que nois era pequeno demais pra vê enterro, então a mãe deixo nois em casa e foi enterra o pai, e nunca mais vi ele. Mãe diz que ele tá cum Deus! É verdade, seu padre?
_É filho! –Disse o padre comovido.
_Então mãe não mentiu! Que bom! Depois disso tudo, eu arresolvi ser o homi lá de casa, e vim aqui pra porta da igreja, vende velas, pra dar o leite do Marcelinho, pois os peito da mãe não da leite pra ele, e a pensão do pai, mal dá pra paga o barraco!
_E ninguém ajuda vocês?
_Pra fala a verdade, seu padre, vez ou outra chega lá em casa umas mulhe, trazendo uns biscoito duro, e um punhado de coisas pra mãe cozinha, mas não é sempre não.....é bom, mas a mãe falô que nois num deve acostuma com a caridade dus outro, e que devemo trabalha pro sustento, pois quando a caridade faia, a gente passa fomi! Eu, pro meu lado, arresolvi: Vou acostuma a ganha o meu, mas no honesto, por isso é que vendo vela, no luga de pedi trocado pros outro!
_Dá pra ganhar o suficiente?
_Oia, seu padre, desde que comecei a vende as velas, o Marcelo teve leite todo dia! Não ganho muito não, mas para o leite do menino, consigo ganha!
_Mas para o resto, meu filho? –Perguntou com lagrimas nos olhos, o reverendo.
_Ora, senhor padre, o senhor mesmo disse, na missa que eu assisti outro dia, que Deus olha pra quem necessita a ajuda, quem merece! Nois necessita e acho que nois também merece, portanto ele vai nos ajuda, não é mesmo? De mais a mais, nois não temo luxo, seu padre.....mãe esquenta no forno o pão, que seu Valdemar guarda pra mim, da fornada de ontem, e nois num passa fome não, padre! Tem gente que tem menos que nois, não é assim, seu padre?
_É filho! É assim mesmo!
Naquela noite o vigário dormiu mais tranqüilo, pois sabia que na escadaria da igreja, logo pela manhã, um anjo, em forma de vendedor de velas, lá estaria, demostrando com seu trabalho, sua fé em Deus e seus ensinamentos

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