Carlos Alberto Lopes

quinta-feira, junho 28

INGRESSO CARO DEMAIS

O grande artista iria se apresentar na cidade, e aquele era o ultimo dia para a compra dos ingressos pois, para comprá-lo na porta, com certeza o preço dobraria, na mão dos cambistas.
Filomena e Onofre eram classe média.
Ele, empregado no escritório da usina açucareira, a mais de dez anos, recebia mensalmente um salário razoável, que dava ao casal certa tranqüilidade, permitindo moradia digna e mesa farta.
Filomena, desde mocinha, era balconista de confiança da única loja de grande porte da cidade, e lá já estava a muitos anos, com um salário compatível com a responsabilidade, e justo era querer estar entre os poucos casais que iriam prestigiar o renomeado artista, cujo ingresso estava na faixa de dois salários mínimos por pessoa.
Onofre, ao saber quanto desembolsaria pelos ingressos, achou um absurdo cobrarem tanto por uma única apresentação, mas como Filomena queria ir, sacou do talão de cheques e pagou os quatro salários mínimos, pois raramente Filomena lhe pedia algo.
Naquela tarde, horas antes da “grande noite”, Filomena se produziu para o evento, com unhas feitas no salão e cabelo escovado pelo mesmo profissional que cuidava do cabelo da esposa do prefeito, que cobrava os “olhos da cara”, por uma simples tesourada, mas valia a pena.
Na hora marcada, lá estava o casal, em meio à elite da cidade, impecáveis no trajar, ostentando nas mãos os ingressos, comprados a um preço absurdo.
Sentados em seus lugares, aplaudiram até a ultima canção do renomeado artista.
Enquanto isso, na casa do casal, o telefone não parava de tocar!
Lá pelas duas da manhã, voltou o casal à residência logo depois tocava o telefone.
Era Benjamim, irmão de Onofre, avisando da morte do pai, acontecia à meia-noite.
Onofre voltou ao carro e, minutos depois, estavam na casa do pai, na cidade vizinha.
Ao abraçar a mãe, Onofre escutou:
_Filho! Teu pai te chamou das nove a meia-noite! Estávamos te telefonando desde as oito! Onde estava?
Onofre não respondeu
Nunca mais o casal compareceu a um espetáculo qualquer!

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