Carlos Alberto Lopes

domingo, junho 24

FOFOCAS DE BAIRRO (.)

O dia amanheceu chuvoso...
A goteira do quarto de Leocádio pediu urgentemente, a presença da panela, que sua mãe correu para colocar no chão, aparando a água que pingava, antes que tudo se transformasse numa poça, como acontecera na última vez.
_"Menino! Tem que subir no telhado, e arrumar a telha!"
_"Amanhã, mãe... Sem falta!"
Era a mesma conversa, toda vez que chovia...
Leocádio era noivo de Mercedes, a filha do meio de Dona Esperança, que morava na rua de baixo, no sobrado que fora do José Messias, o mesmo que embuchou a filha da Rosária, e teve que casar às pressas.
O casamento durou pouco, e o José Messias vendeu o sobrado para a mãe de Mercedes, quase a preço de bananas, com medo das pragas que lhe rogou Rosária, Mãe-Pequena do terreiro de Pai-Marinho, dito e falado que recebia uma esquerda que conseguia secar pimenteira, só no olhar atravessado daquele já idoso homem de côr, com cabelos côr de neve, sempre vestindo branco, trazendo ao pescoço, aquela montoeira de colares de contas multi-coloridas, que tanto assustaram José Messias, quando foi lá no terreiro, procurando Dona Esperança, viúva de há pouco, e lhe ofereceu o sobrado, por um preço tão barato, que a viúva não teve como recusar, mudando-se oito dias depois, pouco antes de Mercedes fazer seus doze anos.
Já faziam dez, que vivia ali a velha viúva, Marcolino, seu filho mais velho, com seus já trinta anos completos, professor de Música e, diziam os rapazes, "meio afeminado"; Mercedes, que já estava com seus vinte e dois e era Professora Primária, e a mais nova, Efigênia, com dezoito anos, namorada do Joguimar, motorista da ambulância do ambulatório da Prefeitura, que ganhava tão pouco, que para economizar, filava a bóia na casa da sogra todos os dias, e comentavam as más línguas, já passara Efigênia "nos cobres", e já fazia tempo...
Gente simples, a família da noiva de Leocádio, filho único de Dona Mariinha, e Seu Epifânio, que era padeiro por profissão já há mais de dez anos, sendo o profissional da Padaria Nova Lisboa, de propriedade do velho português, Seu Joaquim, pai da Rafaela, que as fofoqueiras do bairro não cansavam de chamar de perdida, só porque gostava de namorar com o Agrimaldo, filho do dono do Posto de Gasolina, atrás do muro do Cemitério, e vez por outra, era vista no "Buteco da Vovó", um recanto no alto do "Morro do Cipó", onde tocava violão, o Rolando, que gostava de vê-la dançar rumba, enquanto ele tocava seu violão, ajoelhado a seus pés...
Leocádio já namorara Rafaela, mas desmancharam, quando ele a viu dançando rumba e a chamou para ir embora, mas ela não atendeu, grudando no pescoço do Rolando...
Foi uma briga "dos diabos", e o Seu Epifânio só não pediu as contas da "Nova Lisboa", porque o velho Joaquim lhe disse que a vida pessoal dos filhos, nada tinha a ver com a Padaria...
Oito meses depois, já era o noivo de Mercedes, com direito à macarronada de Dona Esperança, todos os domingos, com chuva ou sol quente, e com direito também, após o farto almoço, a um cálice duplo de licor de Jenipapo, feito no capricho, pela futura sogra, que ainda faz questão de mandar meio litro, toda semana, ao Seu Epifânio, pai de Leocádio, que embora não goste da bebida, recebe o presente, e o transfere para o patrão, Seu Joaquim, viciado em Licor de Jenipapo e jogo de sueca, o qual, promove todo fim de tarde, no quintal aos fundos da Padaria Nova Lisboa, onde um dos parceiros diários, é Seu Gumercindo, pai de Flávia, que costuma falar alto, todo o sábado, lá pelas quatro da manhã, discutindo com o Flávio, seu irmão, sempre pelo mesmo motivo: o excesso de falta de pano nas suas saias...
Seu Gumercindo é casado com Dona Inocência, e além da Flávia e do Flávio, é filha deles também, a jovem Dorotéia, que foi para o Convento das Carmelitas, há treze anos atrás, e virou Serva de Deus...
O tempo passa na velocidade que quer, nesta pequena porção da cidade, que é o bairro da "Padaria Nova Lisboa", e se vocês estão esperando um "Gran Finale" para essa história, eu só lhes posso dar um ponto final... bem pequenino... Este (.)


autor: Carlos alberto Lopes
emal: escritor@uol.com.br

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