Carlos Alberto Lopes

domingo, junho 24

E LA VEM REGRA....

A menina saiu correndo do barraco!
Vestia uma sainha de chita, com uma blusa de frio sobre a camiseta de campanha eleitoral, já bem surrada pelo uso.
Passou em tamanha carreira pelo "Buteco de Joana", que nem deu o "Boas Noites" costumeiro ao Pai, que ali já estava há bom tempo, tomando sua cachacinha, jogando conversa fora, já que era um dos "eternos desempregados", vítima por própria conta, dos planos econômicos do Governo...
Quando virou o rosto, procurando Mariazinha, sua filha mais velha, agora com dez anos, só conseguiu ver o vulto que descia a escadaria do morro em uma carreira que dava gosto!
Voltou ele os olhos para o balcão e disse a Joana, dona do buteco, mulher conhecida como decente, embora vivesse com o Nêgo Osório, mais novo que ela vinte anos, em sistema de "amigamento", do qual vieram ao mundo Rafael, soldado do Oitavo Batalhão, e Jandira, agora com dezoito anos, professora recém-formada, que dava aula aos meninos da favela, no barracão atrás do buteco:
_"Êta! Não é que minha menina sabe corrê bem, cumadre? E óia que nem escorregou no limo!
Joana, em resposta ao freguês, comentou:
_"Eu inté tô percupada viu? A menina nunca dexô de me cumprimentá!"
_É... - disse o pai, coçando a cabeça - Isso é istranho mermo... Acho que vô inté l'em casa, só para vê como vai a coisa!
Largou ele a pinga no copo, e subiu até seu barraco, que ficava a alguns metros do buteco...
Lá chegando, ainda da porta, foi falando:
_"Ô Zefa!... qui carrêra era aquela de minha Preta?"
_"Entra Zé!... qui eu te conto tudo, tim-tim pur tim-tim...
Zé entrou, e encontrou a mulher sentada numa cadeira com as pernas abertas, tendo uma bacia ao chão, onde caiam filetes de sangue...
_"Muié!!! O qui aconticeu?!"
_"Sei não Zé... A coisa cumeçô a brotá sangri!!!"
_"Cruiz'im Credo, muié!!! O que tu pensa qui é?"
_"E eu lá sei homi?! Nunca vi isso!!!"
_"E dói??"
_"Óia, duê num dói... mais qui enche o saco, enche..."
_"E o qui vamo fazê?... Será qui pon'açucra, pára?"
_"Sei lá! Foi pru'isso qui eu mandei a menina chamá a Nega Bia... Com tanta rapariga em sua casa, ela deve de sabê o qui tá aconticeno...!
_"Mais Fia... Logo aquela tár de Bia?!"
Mal acabou ele de dizer isso e entrava pela porta, Dona Bia, que vendo aquela cena, começou a rir que nem uma desesperada.
O Zé, achando um despropósito as gargalhadas daquela "fulana", disse:
_"Ora!... Minha muié tá banhano em sangri, e ocê se cagando de ri?!!"
A experiente Bia, contendo o riso, disse:
_"Ora, isso não é nada!... Acontece de vinte e oito, em vinte e oito dias, depois dos doze anos!
O marido, assustado, perguntou:
_"E pru quê, nunca aconticeu antes?"
_"Porque você nunca deixou!!! Com dez anos de casado, tem treze filhos!!! Não há regra que desça desse jeito!

autor: Carlos alberto Lopes

emal: escritor@uol.com.br



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