Carlos Alberto Lopes

domingo, junho 24

A SOBREMESSA

Dona Carmela, era há mais tempo que a memória se lembra, a responsável pela Agência dos Correios da pequena cidade, onde tudo era de conhecimento de todos, e os segredos dos "antigamente", guardados a sete chaves, das quais, Dona Carmela, já tirara cópias de há muito!
A vida de Dona Carmela, viúva há tanto tempo, que nem mais sabia onde andava a sua certidão de casamento, era a de uma senhora de meia idade, embora comentassem vez por outra, que algumas noites, a boa senhora, deixava a porta dos fundos aberta, por onde entrava Seu Malaquias, altas horas da noite, pé-ante-pé... e só saía pouco antes do galo cantar.
Comentavam que Dona Carmela fazia o pobre do Seu Malaquias suar frio, frente às posições eróticas que inventava, à luz do lampião...
O finado, aparecera morto certa manhã, nu em pêlo, com os olhos arregalados e um sorriso sacana aos lábios...
O médico, chamado às carreiras, constatou que o pobre morrera do coração!
Assim ficara viúva Dona Carmela, que acostumara-se, com o correr do tempo, a deixar a porta dos fundos aberta...
No dia anterior ao velório do finado, Dona Carmela, mestra de forno e fogão, preparara para a janta, moqueca de linguado, regada a azeite de dendê, e contava, algumas horas antes do sepultamento de seu marido, que o finado, havia se empapuçado com sua deliciosa iguaria!
Contam, aqueles que ao velório compareceram, que o defunto teve de ser enterrado com a barrigudinha, das calças, aberta, pois não houve "Cristo" que conseguisse fazer seu "mastro" baixar a bandeira!
Motivo foi de risos no "Buteco do Turco Abdala", amigo do falecido, onde o finado passava as horas da tarde, em constante contar de causos...
Dona Carmela arrumou a maior confusão no velório, quando "Joaquina Prega-Aberta", uma velha cafetina da cidade vizinha, resolveu aparecer, com "duas fulaninhas"...
O trio, encostado ao caixão, chorava aos soluços, enquanto a velha cafetina, alisava o "mastro", que não descera a bandeira...
O enterro do finado foi o mais concorrido da cidade, pois o caixão, por causa da altura do "mastro", não fechava, e teve de ir de casa ao cemitério aberto!
Seu Lindolfo, velho amigo do falecido, mas "sarrista de carteirinha", garantia no velório, de "pés juntos", que o que matara o finado, não fôra a moqueca de linguado...
-"Foi a sobremesa, preparada com esmêro e qualidade, que só a comadre Carmela sabe fazer!"

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