Carlos Alberto Lopes

quarta-feira, junho 27

CONTAS Á PAGAR

O carro importado, com emblema famoso junto ao cofre fronteiriço, parou na avenida movimentada do centro, obrigado pelo sinaleiro, que mudara de cor.
O motorista, rapaz ainda, aproveitou a parada para fazer uso de seu celular.
Não percebe o aproximar de estranhos que em instantes, estavam encostados à porta do veiculo.
_É um assalto, moço!
Falou um garoto com roupas comuns, surradas pelo tempo, não aparentando mais do que seus doze anos, apontando ao motorista um Táurus, calibre 38, carregado.
_Você esta brincando, garoto? – Disse o rapaz, não acreditando no que acontecia.
_É um assalto moço! –Repetiu o garoto, apontando a arma _ O que tem ai pra mim?
O motorista colocou a mão na maçaneta e empurrou à porta contra o corpo do menino.
Com o tranco, a arma dispara, e o filete de sangue corre do peito do motorista, que tomba para o banco do carona, enquanto o assustado garoto corre pela avenida, levando a arma.
No final da tarde, enquanto o rádio e a TV dão a noticia da morte, em plano avenida, do jovem e promissor executivo, o garoto sobe o morro e, com cara assustada entra no barraco onde lhe espera a mãe, seis irmãos menores e o pai, que visivelmente embriagado, lhe pergunta.
_Então? Quanto conseguiu hoje, garoto?
_Nada! O moço reagiu! - Respondeu o menino, assustado.
A mão do alcoólatra estalou no rosto do menor com tamanho fúria, que um filete de sangue escorreu da boca do pequeno infrator.
_E porque você não limpou o cara? – Perguntou o pai, em fúria.
_Fiquei com medo! - Respondeu o menor, limpando o sangue.
Novo tapa, e outro filete de sangue escorreu da boca do menino, manchando a camisa encardida que vestia.
_E agora? – Disse o alcoolizado pai –Como vou pagar a conta do boteco?
O menino, passando a mão no rosto, saiu pela porta do barraco e sumiu, na escuridão do começo da noite.
Seis meses depois um menino, o mesmo garoto, é manchete na TV.
“Menor é baleado por PM, durante assalto em coletivo”- Diz o locutor do noticiário, que mostra o corpo sem vida do menino.
Ao ver a imagem, na TV preto e branco do boteco do morro , um freguês, grita
_“ Mataram meu filho!”
O dono do botequim, virando-se para um outro freguês, diz:
_É... Mas uma conta, que não vou receber! Coisas deste pais!

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