Carlos Alberto Lopes

sexta-feira, junho 29

OBRIGADO, JULIO!!!

Júlio era o que se podia classificar de um “João Ninguém”, pois nunca conseguia criar família, ter emprego fixo, possuir propriedade ou outra coisa qualquer, pois nunca tivera juízo bastante para isso, vivendo, dormindo e comendo graças à caridade e bondade do povo da pequena cidade, que o considerava “patrimônio municipal”, pois Júlio tinha coisas ao seu favor: Não bebia e era de alta confiança.
Era a pessoa ideal para fazer pequenas tarefas, mas nunca duas ao mesmo tempo, pois sua mente misturada tudo e ele entrava em depressão.
Os comerciantes da cidade, nomearam Júlio numa espécie de “continuo coletivo”, pois fazia pequenos trabalhos, e com isso ganhava o suficiente para não ser pedinte, o que lhe dava um certo respeito próprio.
Seu quartinho, atrás do armazém de miudezas do Januário, é arrumadinho e limpo ao extremo, pois Júlio detesta sujeira.
Aos domingos, pela manhã, que ninguém procure Júlio, pois ele esta na casa paroquial, cuidando da faxina, e por mais que o sacerdote queria lhe dar pagamento pelo trabalho, não há quem o faça aceitar, pois diz que é Deus quem lhe faz o pagamento, dando-lhe direito a dignidade.
Quem não conhece Júlio, facilmente o confunde com um executivo, pois vive vestido com terno completo, camisa branca de mangas compridas e gravata.
Tinha, no quartinho, um guarda-roupas quase de primeira, pois todos os comerciantes da cidade lhe davam roupas quase novas, ou novas mesmo, pois Júlio merecia, visto que cuidava da aparência e do asseio próprio como poucos.
Júlio era respeitado por todos na cidade, pois estava sempre pronto ajudar seu próximo.
Ninguém conhecia o passado de Júlio ou sua família.
Aparecera na porta da casa paroquial, a uns vinte anos atrás, e nunca mais abandonou a cidade.
Certo dia, um caminhão perdeu o controle na descida do morro do cruzeiro e entrou, desgovernado, na praça da matriz.
Ao meio da praça, na inocência de seus quase dois aninhos, brincava Bianca , filha única de Fabiola e Gilberto.
O veiculo, carregado e sem controle, invadiu a praça, levando pelo caminho bancos e árvores centenárias.
Sua possível trajetória, tinha o local exato onde Bianca brincava com sua bonequinha de louça, que a vó lhe dera no último Natal.
Júlio estava na padaria.
Ao ver o caminhão entrando na praça, correu como nunca e, em segundo, tirava Bianca da trajetória do veiculo, mas não conseguiu evitar que o caminhão o atingisse, fazendo de Júlio sua única vitima.
Júlio ainda foi levado ao hospital, mas não havia mais tempo pra nada. Júlio estava morto!
Seu velório, na câmara municipal, foi o mais concorrido da cidade.
Seu enterro, o de maior número de pessoas.
Por iniciativa do comércio, foi decretado luto não oficial por três dias.
Isso aconteceu há mais de dez anos ,e até hoje o nome de Júlio é sinônimo de bondade, na cidade onde Bianca brinca na praça da matriz, deixando sempre uma rosa branca na placa que lá esta, onde se lê:


“Ao amigo Júlio, a cidade agradece!!!”

A rua, que liga o cruzeiro a praça, foi rebatizada como “Alameda Júlio; a creche, onde Bianca estava matriculada na época do acidente, recebeu o nome de seu salvador.
O sacerdote da matriz reza, anualmente, uma missa em memória de Júlio, na data do acidente e o prefeito decretou a data como feriado municipal.
Júlio, o homem sem família ou sobrenome, tornou-se herói, não só pelo seu ato, mas por sua maneira cristã de ver a vida.

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