Carlos Alberto Lopes

segunda-feira, junho 25

SERÁ QUE CHOVE?

De certa feita, na estrada que liga a cidade de Coimbra a Viçosa, na tal das Minas Gerais, dois matutos se encontraram.
Um, ia de Viçosa para Coimbra, e o outro vinha no sentido contrário, viajando sem destino.
Dizia a quem lhe perguntasse, que havia "saído para distrair as idéias", isso há uns vinte anos e ainda não havia conseguido". Portanto "não podia voltar. Voltar, seria dar prova de mentiroso, pois como podia voltar, se suas idéias ainda não estavam distraídas?"
O que tinha destino, perguntou-lhe então:
_"Será que chove?"
O andarilho, pensou um pouco... olhou para o céu... coçou a testa levantando o chapéu de palha... sentou-se num toco de árvore morta que havia ali no acostamento da estrada... enfiou uma das mãos no bolso da camisa, retirando um punhado de palha especial, enquanto que, com a outra retirava do bolso das calças, um bom pedaço de fumo-de-rôlo curtido. Depois, do outro bolso fez sair um canivete afiado... Picou um bocado do fumo, ofereceu ao outro, que recusou, porque não fumava e passou então a fazer seu cigarrinho... sem pressa nenhuma... mas, consciente de que o companheiro lhe fizera uma séria indagação.
Quando o cigarro ficou pronto, ele colocou-o nos lábios, ascendeu-o, tirou uma bela tragada, colocou o cotovelo no joelho esquerdo e virando-se para o companheiro, disse:
_"E se ma'le pregunte... Pruquê o amigo qué sabê?"
O outro matuto, que trazia às costas uma enxada de bico, dessas de desenterrar mandioca, apoiou-a no chão, encostando-a no barranco...
Arregaçou as pernas das calças, postou-se de cócoras em frente ao outro, retirou do bolso da camisa uma latinha própria para transportar rapé... tirou dela uma boa pitada... levou a uma narina, depois à outra, deu uma forte fungada... guardou a latinha, e respondeu:
_"Pur nada não... só tava puxano prosa..."
O outro, levantando-se, arrumou o chapéu na cabeça, enfiou os dedos polegares por dentro do cós das calças, um de cada lado, deu leve puxão, e levando-a até à cintura, respondeu:
_"Ah bão... nesse caso, chove não!"

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