Carlos Alberto Lopes

domingo, junho 24

EITA CIDADE PORRETA....

Aquela e uma boa cidade , com uma boa população.
A Igreja Matriz fica na praça 2 de julho , ao lado da agência do Banco do Brasil , onde seu vigário tem conta corrente , que sempre esta no vermelho.
No terreno da Matriz , fica a casa paroquial , onde mora o seu vigário , Ederaldo , o sacristia e Carmem , sua esposa , dona de um corpo estruturalmente bem proporcionado , que a turminha de parceiros de turco , juram que é amante do vigário , mas nunca se conseguiu provar o “corneamento compulsivo” do Ederaldo , mas assim mesmo segue o comentário, que já ultrapassou a mesa do jogo de truco, com certeza.
Do outro lado da praça , fica a padaria do Germano , o cinema e a casa de dona Elclacia, a dona do terreno onde o Marcos “boa boca” montou o único posto de gasolina da cidade, e ficou rico.
Elclacia, além do terreno do posto, é também a dona de todas as casas da rua de baixo, onde fica a casa de Maria Boa Bisca , que recolhe meninas desprotegidas pela vida e as coloca a disposição dos amigos, mantendo a casa aberta, com festa todo dia, a partir das nove da noite.
Elclacia é viuva do Honorário, que foi prefeito, mas isso a muitos anos , quando a cidade valia a pena. Agora, em tempo de eleição, os partidos tem que catar candidato quase a unha, pois o orçamento da cidade não da pra nada!
Filomena dos Santos, Dona Filó, é a única professora da cidade . O ordenado de Filomena e tão pouco que, pra sobreviver, Filó faz “bico” na casa de Maria Boa Bisca. Como se não bastasse o ordenado ser uma miséria Filó não recebe a oito meses, pois a prefeitura alega não ter recursos. Com isso, ganha a cidade, pois a mesma professora que ensina o ABC para os pequenos, ensina o resto da lição, para os mais velhos.
Diz o prefeito que isso é democracia, e ninguém discorda dele, pois afinal a Filó é boa professora e sabe bem dar suas aulas, indo muito além do que diz os planos educacionais da Prefeitura.
A Carmem veio para a cidade com um grupo de ciganos , e se perdeu de amores pelo Ederaldo que estava ainda “ensaiando” para ser sacristão e, quando os ciganos foram embora, Carmem ficou.
Seu vigário apoiou o casal , fez o casamento e deu ao Ederaldo o cargo de sacristão. O mais estranho é que, antes disso, seu vigário nunca quis ninguém na casa paroquial, mas agora anda à comprar roupas pra Carmem, que anda pela cidade em tal luxo que coloca a Maria das Mercês, filha do coronel Fugêncio, nos chinelos.
Não e toa que a turminha do truco fala que o padre passa o Ederaldo pra traz.
A cidade fez movimento pra expulsar a tal da Carmem, quando os ciganos foram embora , mas seu vigário conteve os ânimos.
Agora, com o passar do tempo, Carmem já tem seu espaço, sendo inclusive filha de Maria, respeitada até pelo João Curtido, que vive de porre, vive na praça e faz “xixi” na campa do pobre do Honório, todo dia de Finados, em honra do amigo.
Quem não gosta muito desta “Honraria” com o Honório é a viuva, dona Elclacia, que molha sempre os cotovelos, quando vai rezar o terço no cemitério, em dia de Finados. Aliás, Elclacia reza um terço pró marido, ao lado da campa, no cemitério, todo santo dia às seis da tarde. Seu vigário tá cansado de dizer que é exagero, mas a viuva não leva a sério o aviso do padre, e atrasa o fechar do cemitério todo dia.
Talvez esteja na hora da viuva saber que o Honório não era lá este santo que todo mundo diz, pois mantinha casa montada, sem que a Elclacia soubesse, pra Joana do Peito Caído, ex-afilhada de Maria Boa Bisca, lá na rua do cartume, mas não há quem ganhe coragem de contar pra Elclacia.
É coisa que todo mundo sabe, menos a pobre viuva.
O mais engraçado de tudo isso a Joana Peito Caído, que “na vida civil”, tem o nome pomposo de Joana Albuquerque, vive de “leva e traz” com Elclacia, pois as duas são filhas de santo do terreiro de Pai Germano, no morro do cemitério. Passam o dia de Sexta-feira as duas, lado a lado, fazendo os tais quitutes para os santos e, no cair da noite, lá estão as duas, na reza do atabaque. Preparam o banquete, todo enfeitado com lírios silvestres, doces diversos, salgados, farofa sem sal e sem açúcar e o galinha preta. Pouco antes do barracão abrir, há o banho das sete ervas, que Joana prepara com esmeros. Ao cair da tarde de Sexta-feira, pouco depois do crepúsculo, Joana Peito Caído abre as portas do barracão e começa o chegar do povo, gente humilde, trabalhadores do corte da cana, que escolheram o barracão, ao invés da majestosa igreja matriz.
Quando as badaladas da matriz avisam que já são oito da noite de Sexta-feira, Elclacia sai do quartinho e senta-se na cadeira de espalmo longo, no centro do barracão. Agora não e mais a dona da rua de baixo, a proprietária do terreno do posto de gasolina, viuva do Honório; filha de Maria.....
Hoje e Sexta.
Dia de função no terreiro de Pai Germano, onde dona Elclacia e mãe pequena.

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