Carlos Alberto Lopes

sexta-feira, junho 29

O SUSTO DO LAURINDO

Na choupana, onde funciona a xiboca do Horácio, que faz a melhor caipirinha do morro , o Bola Sete jogava sinuca com filho da Maroca, que já puxou dois anos de cadeia e ainda não se emendou, vivendo de arrumar confusão.
_ Marcelo não tem vergonha!
É o que diz, sempre que tem o oportunidade, a Maroca, mãe do pimpolho.
Para a mãe, é o Marcelo, mas para o morro era Nego Cipó, forte como um touro e ágil como um gato.
O único que merecia seu respeito era Bola Sete, pois o crioulo era de assustar qualquer um, e poucos tinham coragem de enfrenta-lo. Eram dois metros de músculos, onde se distribuíam cento e vinte quilos de peso, era um verdadeiro trator, quando perdia a paciência, mas uma moça, no trato do dia a dia.
Puxara oito anos de cadeia, quando deu um murro no cabo Getúlio e o mandou ”visitar São Pedro”, só com passagem de ida.
Vivia ele de bicos, e assim sustentava a velha mãe, já com quase setenta primaveras.
Tinha lá seus amigos, e um deles era Negro Cipó, pois os dois lá se entendiam.
Era comum o joquinho de sinuca, no mano-a-mano, todo inicio de noite, na xiboca do Horacio.
Naquela noite, porém, a coisa foi diferente, pois lá pelas oito da noite, Maria Filomena das Dores entrou, trazendo o pequeno rebento ao colo, chorando que nem uma desesperada.
Cipó pegou o menino ao colo, enquanto o bola procurava saber o que havia acontecido.
Depois de muito choro, Filomena conseguiu contar que o Sargento Laurindo, seu caso a tempos, e pai do menino, havia chegado de cara cheia e resolveu comprar barulho, dando-lhe uns tapas e quase acertando no menino.
Enquanto escutava a história, o rosto de Bola Sete avermelhava, ganhando um tom roxo, que assustaria qualquer um.
A mulher do Horacio recolheu o menino e Filomena, enquanto os dois amigos saiam, sem nada dizer.
Não levaram dez minutos, para estarem na porta do sargento Laurindo, que tinha este titulo porque era sargento, nos fuzileiros, quando era mais moço.
Quando Laurindo atendeu à porta, ainda meio de cara cheia, veio com meia dúzia de palavrões feios.
Bola não disse uma única palavra, apenas juntou Laurindo pelo colarinho e o levantou ao chão uns bons dois palmos.
Laurindo, com o susto, curou a bebedeira rapidinho, e começou a se dizer autoridade; que o Bola o soltasse, e outras coisas mais.
O Bola olhava no olho do homem e o segurava com uma mão só enquanto Nego Cipó revistava a casa, em busca da arma do sujeito.
Quando a encontrou, Bola soltou o sujeito, que estava vermelho que nem um pimentão.
Laurindo sentiu o dedo do Bola em seu peito, e ouviu o estrondo da voz do “brutamontes”, que ressoou ao ouvido.
_Se oce toca novamente, ou em Filo, ou no menino, os tais dos fuzileiros não vão gasta muito, pra enterra oce, viu?
Laurindo ficou branco...
As pontas dos dedos gelaram...
Ainda estava assim, quando Cipo e Bola saíram, voltando ao seu joquinho interrompido.
Filomena voltou pra casa horas depois, e nunca mais o Laurindo tocou num fio de cabelo dela ou do menino.
A vizinha contou que, no outro dia pela manha, Filomena estava no tanque, lavando um pijama de Laurindo, pois o mesmo estava borrado.
Deve ser verdade, pois Bola Sete tem fama de fazer safado borrar as calcas, vez ou outra.

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