Carlos Alberto Lopes

quinta-feira, junho 28

O MATUTO

(Em memória de Massilom Bueno)


O jovem nascera cuidando de plantação. Não sabia e não queria fazer outra coisa. Foi por causa disso, que havia se sujeitado a ser "alugado".
A única coisa que pediu, foi que o Coronel, dono da terra, lhe permitisse viver isolado, num barraco que ele mesmo levantou, no meio do matagal, a dez metros onde ficava a roça de cana-de-açúcar, que o Coronel encarregara-o de cuidar.
O combinado, era que em cada lote de tonelada de vareta caiana, que fosse colocado nos caminhões, o Coronel pagaria a ele, dez por cento do valor do carregamento, ao preço do dia.
O dono da terra, ao fechar o negócio, não achou que o pagamento ao peão, que trabalharia sozinho em grande extensão de terra, fosse um grande dinheiro.
Acontece, que ninguém conhecia o método de plantio e colheita do qual o matuto era conhecedor, e... não deu outra!
No final da safra, o pedaço de roça do matuto, apresentou quatro vezes mais peso em tonelada, do que qualquer outro pedaço de terra do velho Coronel, e este, rompendo o compromisso, negou-se a pagar contra-entrega.
O matuto foi à casa grande, e o dono da terra, no lugar de o pagar, não o recebeu, mandando seus capangas lhe darem uma boa surra.
Não contente com isto, remeteu ao pedaço de terra do matuto, meia dúzia de homens, que atearam fogo em seu barraco...
O matuto, após recuperar-se da surra, conseguiu emprestado de um amigo, uma espingardinha "pica-pau", e carregando-a com caquinhos de vidro, sorrateiramente chegou ao principal curral do fazendeiro, fez mira, e descarregou a "pica-pau" bem entre os olhos do touro reprodutor do Coronel, orgulho da fazenda.
Não contente com tal façanha, o matuto, munido de uma caixa de fósforos e um galão de querosene, ateou fogo no canavial!
Como era época de "noroeste", em menos de duas horas a fazenda inteira era uma fogueira só!
No outro dia, pela manhã, enquanto chegava à cidade a notícia do Coronel arruinado, que cometera suicídio, entrava no buteco do Oscarim, um matuto, com uma espingardinha "pica-pau" descarregada ao ombro; um cigarro apagado à boca e uma caixa de fósforos vazia no bolso, pedindo ao balconista, um fósforo, para acender o cigarro.
Ao escutar o comentário sobre o suicídio do Coronel, sentou-se num banquinho existente à porta do buteco, puxou longa tragada do cigarro de palha, e disse:
_"Grande perda! Honesto que nem aquele, nunca mais encontrarei! Mais ainda bem que consegui cobrar dele, tudo o que ele me devia!

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