Carlos Alberto Lopes

quinta-feira, junho 28

CANGRENA

Infelizmente era verdade: Orlando Bola Sete estava morto, e ninguém podia fazer nada, a não ser rezar um pouco e levantar um brinde ao velho amigo, que se não vivera como um homem de bem, morrera como um macho!
A história da morte do Orlando, tem que começar a ser contada uns vinte anos antes, senão, quem a escuta, sem saber o começo, não entende nada!
Orlando veio ao mundo numa sexta-feira da Paixão, enquanto o Padre da Matriz, fazia uma prece bonita sobre a morte do homem de Nazaré...
Mas não terminou a dita prece, pois teve que transformar a Sacristia em sala de parto, visto que a negra Sebastiana, resolveu dar a luz ali mesmo, no meio da missa, tendo o Padre, como aparador do rebento.
Ao apará-lo, para que não batesse a moleira no chão da Sacristia, o Padre fez a única besteira, que teve coragem de confessar em toda a sua vida: salvou Orlando Bola Sete de não chegar a ser nem bola, quanto mais um número tão alto!
Após tomar a bundinha negra do rebento, dois sonoros tapas, que ecoaram por toda a nave da Matriz, Bola Sete colocou a boca no trombone, e não fechou mais a "dita cuja"!
Eu já lhes contei que o Padre se arrependeu da besteira que fez, salvando o Bola, mas Seu Vigário, estava num daqueles dias em que levantou-se "inspirado para fazer burradas", e resolveu dar um presente para o pequeno Bola, que naquela época, não estava com o número tão alto como conseguiu alcançar com o tempo, mas isto não tem nada a ver com a história.
O que tem a ver com a história, é que o Seu Vigário, não se sabe ainda porque cargas d'água, resolveu "fechar o corpo" do garoto, e para mal dos seus pecados, o fez com água-benta!
Quando completou doze anos, brincando no bambual, uma cobra Jararaca, deu uma mordida na perna do filho de Sebastiana. Nêgo Orlando, apelido que já ganhara, entrou em febre de quarenta graus por três dias!
Nem Dona Joaquina, Mãe de Santo das melhores, filha de Oxum, não dava nada por sua vida!
No começo da noite do terceiro dia, Orlando sentou-se na cama, disse que estava com fome, e raspou um prato fundo de feijão com farinha de mandioca!
Com dezoito anos, entrou numa briga com João Unha-de-Fome!
Foi uma confusão que durou três horas, de onde Bola Sete saiu com um punhal gravado ao peito e o João, com caixão, encomendado pela Promoção Social...
Passou ele oito dias, entre a vida e a morte, na cama de casal de sua mãe, que rezava vinte e quatro horas por dia...
Ao fim do oitavo dia, Bola Sete abriu os olhos, pegou o cabo do punhal e o arrancou do próprio peito... O corte fechou em duas semanas!
Na semana passada, bêbado de cair, Bola Sete teve uma discussão com o Seu Vigário, por causa de "Maria Perna Torta", prostituta das rameiras, que o Senhor Vigário, resolveu não permitir que entrasse na Igreja para a reza das sete, vestindo aquela sua famosa saia, que os meninos do Colégio já havia apelidado de "Abajur de Nádegas", porque a professora disse que "bunda" era palavrão!
Nêgo Orlando, com a "cara cheia", resolveu defender a rapariga, e chamou Seu Vigário de vários e sonoros palavrões cabeludos, inclusive ofendendo a honra da santíssima progenitora do Vigário, que obediente às leis da Igreja, não respondeu à altura, limitando-se a dar um banho de água benta no embriagado ofensor...
Ontem Bola Sete morreu, vítima de gangrena no pé esquerdo, cujo começo foi uma picada de marimbondo, que o Nêgo Orlando Bola Sete nem ligou para cuidar!

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